Algumas verdades para serem esclarecidas sobre a cocaína e o crack.
A diferença da cocaína em relação ao crack nada mais é do que a cocaína em pó, adicionada de água e
bicarbonato de sódio. Essa mistura é aquecida até a água evaporar, e o produto
final consiste de pedras de cocaína. O nome “crack” vem de uma palavra inglesa
que descreve o som produzido durante o processo de aquecimento da droga na hora
de fumar.
O crack surgiu nos EUA no final da década de 80 como uma forma de
cocaína que pode ser fumada. É impossível fumar a cocaína em pó, pois ela
desmancha e não vira fumaça.
Altas doses de cocaína ou crack podem produzir alguns tipos de
movimentos repetitivos (por exemplo, coçar o nariz compulsivamente, olhar de
lado etc.), irritabilidade intensa, violência, inquietação, medo excessivo, que
pode transformar-se na sensação de estar sendo perseguido (essa sensação pode
ser tão intensa a ponto de ser confundida com uma doença psiquiátrica muito
grave chamada esquizofrenia), e aumento da temperatura do corpo com febres de
mais de 39ºC. Podem ocorrer ainda convulsões semelhantes à epilepsia, e as
arritmias cardíacas (sensação de que o coração está batendo irregularmente) são
bastante comuns, sendo uma das causas mais frequentes de desconforto após o uso
da cocaína.
Quando os efeitos de intensa excitação ocorrem, eles podem ser seguidos
de depressão. O efeito rebote pode ocorrer mesmo com doses baixas de cocaína.
Afora os
efeitos já assinalados, podem ocorrer mudanças na personalidade dos usuários,
em especial nos que consomem a droga diariamente. Sentem-se pressionados a
consumir a droga e não se importam com o que deveriam estar fazendo; passam a
ficar com segredos, a faltar a compromissos e a mentir; começar a gastar
dinheiro muito mais do que antes e podem passar a vender objetos pessoais ou da
família para conseguir comprar a droga. Subsequentemente podem passar a roubar
e a assaltar para o mesmo fim.
É notável
que a diminuição do cuidado consigo mesmo e a perda dos valores morais e
sociais ocorrem muito mais rápido com os consumidores de crack, possivelmente
devido à capacidade de esta droga provocar dependência mais rapidamente.
O usuário
da cocaína sente que está no topo do mundo e que pode tudo, entretanto a sua
concentração e atenção diminuem. Se alguém, sob o efeito da cocaína, tentar ler
um livro ou precisar tomar decisões complexas, não conseguirá, pois a sua
capacidade de organizar as informações, memorizar e decidir estará
comprometida. Além disso, logo depois de o efeito da droga passar ele sentirá
mais ansiedade, cansaço e depressão do que antes do seu uso.
Em relação
ao prazer sexual, há o mito de que a cocaína, por ser uma droga estimulante,
aumenta o prazer sexual. Na verdade, nossa experiência comprova que a maior
parte dos usuários deixam de lado o sexo e se dedicam quase que exclusivamente
à busca do prazer momentâneo produzido pela droga. Muitos pacientes em
tratamento relatam que não mantêm relações sexuais há muito tempo.
No caso do
crack, em particular, a diminuição do convívio social leva a uma consequente
diminuição do interesse sexual.
A cocaína e
o crack produzem uma alteração geral no sistema nervoso, mas também provocam
alguns problemas mais específicos, como dor de cabeça, tremores, tonturas,
desmaios, visão embaçada, tinido no ouvido. Dois problemas merecem destaque
especial: os derrames (Acidentes Vasculares Cerebrais ou AVC) e as convulsões.
As
convulsões, ataques semelhantes aos que ocorrem nos epilépticos, são observadas
principalmente entre os usuários de crack.
Uma das
características mais marcantes da cocaína é sua capacidade de diminuir
sensivelmente o apetite e causar perda de peso no usuário. Se inicialmente a
perda de peso é até bem-vinda, progressivamente se transforma num grande
problema, pois a pessoa pode ficar dias e dias sem comer, o que a levará a
quadros de desnutrição, anemia e outros distúrbios metabólicos. Sem contar que
a perda de peso é sempre acompanhada de carência de vitaminas, principalmente
vitamina B6.
A morte por
problemas cardíacos é uma das principais causas de overdose, mais comum até que
as causas neurológicas.
Além das
causas fatais, o coração do usuário de cocaína trabalha mais do que o normal e
a diminuição do oxigênio pode levar a um quadro chamado de cardiomiopatia. A
cocaína também tem sido relacionada com uma intoxicação específica do músculo
cardíaco que diminuiria a função da parte esquerda do miocárdio. A miocardite
aguda é especialmente observada em usuários de crack. Paradas respiratórias
podem ocorrer como consequência da overdose de cocaína, independentemente da
via usada.
Os efeitos
indesejáveis do uso da cocaína e do crack não ocorrem somente com grande doses
ou quando a droga é usada por via endovenosa; mesmo doses pequenas usadas por
via nasal podem provocar as consequências já descritas. Além disso, usuários
que consomem cocaína há algum tempo não estão protegidos dessas complicações.
Isso porque a tolerância à droga varia muito de pessoa para pessoa; até a
sensibilidade de um indivíduo pode mudar ao longo do tempo, e uma dose
considerada “segura” pode tornar-se letal após alguns meses.
Portanto
podemos afirmar que não existe dose segura para os usuários de cocaína, o seu
uso sempre implicará um risco substancial para o saúde.
As pessoas estão
acostumadas a ouvir que o dia seguinte a um de uso intenso de álcool
constitui-se de uma série de sintomas físicos, conhecidos como ressaca. No
entanto, às vezes se surpreendem quando são alertadas sobre o dia seguinte
ao uso de cocaína.
Após passar o efeito da
droga, o cérebro não volta ao seu normal imediatamente. O dia seguinte ao uso
da cocaína constitui-se de depressão, desânimo, irritabilidade, insatisfação,
baixo poder de concentração, fome etc. E quanto mais cocaína for usada, maior
será a “ressaca” no dia seguinte. À medida que as “ressacas” ficam cada vez
mais frequentes, a pessoa tende a usar cocaína sem intervalos, procurando
aliviar esses sintomas negativos. É a partir daí que as chances de dependência
ficam cada vez maiores.